No âmbito das comemorações dos 48 anos do Dia 25 de abril de 1974, o Município de Mesão Frio realizou uma sessão evocativa, que decorreu ontem, no Auditório Municipal de Mesão Frio. Leia aqui a intervenção política na íntegra, do Presidente da Câmara Municipal de Mesão Frio, Paulo Silva, aquando do ato solene:
Excelentíssimas senhoras e senhores,
Portugal derrotou o Fascismo há 48 anos atrás. Novos valores se levantaram nessa manhã de 25 de Abril de 1974. Caíram os poderes podres: os poderes feitos de favores e compadrios, e sobretudo, os poderes baseados no medo permanente, no garrote do controlo e na opressão asfixiante. Caiu o poder único; o poder inquestionável. Caiu o poder do orgulhosamente só!
E nasceu o poder do povo. O poder ditado pelas eleições livres e democráticas. Onde cada um se expõe à opinião de todos e é por ela julgado, votado e, eventualmente, eleito!
E este é um poder que compromete o eleito perante o eleitor. Um poder que presta contas de X em X anos e que se submete à decisão soberana e escrutinada de todos os que compõem o universo eleitoral do país, do município ou da freguesia.
Este é o poder que me trouxe, a mim e a minha equipa, a esta tribuna. E é perante o povo de Mesão Frio que a nossa ação se expõe e que os nossos propósitos são analisados e vivenciados. Esta é uma responsabilidade da qual não nos escondemos e que, sobretudo, queremos promover, exponenciar e mesmo exigir de todos!
Participar com ideias e soluções; criticar contribuindo; vigiar democraticamente! Estas, entre outras, são obrigações de todos nós! De quem tem a obrigação decretada pelas eleições de Governar, da Oposição que vigia institucionalmente e de todos os que compõem a sociedade que têm o dever e o direito de exigir soluções, adicionando ideias e participando com lealdade nos fóruns democráticos do regime de liberdade instituído pelo 25 de Abril.
Meus amigos: liberdade é a palavra-chave! E talvez não seja por acaso que liberdade rima com responsabilidade.
A lição trazida pelos jovens militares que fizeram a Revolução é que o poder exige responsabilidade a quem, momentaneamente, dentro das regras democráticas, e sempre, sempre segundo o modelo da limitação de mandatos, o exerce.
E o exercício do Poder não é um palco de exibição de vaidades, um pavonear de egos ou um estado de narcisismo permanente. O exercício do Poder é um privilégio que exige sentido de responsabilidade, espírito de missão e humildade perante o escrutínio que as eleições trazem. E é por isso que o exercício do Poder tem que ser, só pode ser, um exercício de liberdade.
Por vezes temos a tentação de dizer que as gerações que já nasceram no período pós 25 de Abril não valorizam a Liberdade. Não a sentem em todo o seu esplendor e beleza, porque no fundo nunca sentiram na pele a falta dela!
É claro que é difícil fazer perceber aos jovens que mais que três ou quatro pessoas juntas na rua poderiam receber ordem para dispersar; que as mulheres tinham que pedir autorização aos maridos para viajar para fora do país; que havia leituras proibidas e filmes censurados pelas razões mais aleatórias; que vivíamos num país onde o estudo era vedado e o analfabetismo grassava; que havia gente presa, torturada e assassinada só porque pensava de forma diferente de quem mandava - de quem brutalmente mandava! - neste país.
E se calhar é bom que os jovens ouçam isto com incredulidade! Como se isto fossem histórias do fundo dos tempos! Mas compete-nos a nós dar o grito de alerta! Dizer alto e bom som que arbitrariedades, injustiças e crimes de Estado não podem voltar a acontecer! Nunca mais! E por isso compete-nos a nós desafiar os jovens; os mais novos; os nossos filhos, sobrinho e netos; os nossos eleitores e futuros eleitores, a tentar compreender como dar valor à Liberdade que sempre se teve!
Quanto a mim, só há uma forma de fazermos isto: ensinar, promover e valorizar a participação cívica! Dar ferramentas aos jovens que lhes permitam dar opinião, contribuir, e, dando-lhes essas ferramentas, exigir que o façam! Só assim - só vencendo esse desafio - serão os governantes capazes de promover a real consciência da diferença gritante do que é viver em ditadura por oposição ao que é viver em democracia.
Mas este é um desafio que temos que sobretudo lançar a nós próprios, a cada um de nós! Exigirmos, a nós e aos que nos rodeiam, autonomia esclarecida, participação comprometida, responsabilização mútua e voz plural na gestão da 'Coisa Pública'!
Porque o exercício do Poder em Democracia é relevante – muito relevante! - na coragem para assumir e desempenhar um cargo público em defesa e consolidação do ‘Bem Comum', mas será porventura ainda mais relevante no momento de sair desse exercício: é importante agir, intervir e deixar marca, mas é sobretudo importante fazer interessar os outros pelo 'Bem Público' para que esses outros venham e façam! Façam porventura diferente, mas sempre com responsabilidade e Liberdade! No fundo, para que cada um assuma a sua responsabilidade e o seu direito em fazer.
O 25 de Abril é para ser celebrado todos os dias e compete a cada um de nós exercê-lo no seu quotidiano!
Viva o 25 de Abril! Viva a Liberdade! Viva Mesão Frio! Viva Portugal!