No dia 25 de abril decorreram as comemorações oficiais dos 50 anos do 25 de abril, no Auditório Municipal de Mesão Frio. A sessão solene contou com o discurso de Paulo Silva, presidente da Câmara Municipal de Mesão Frio, que após agradecer a presença de todos, endereçou as seguintes palavras:
"Passam hoje 50 anos sobre o dia mais importante do nosso Portugal Contemporâneo. 50 anos sobre ‘O dia inicial inteiro e limpo / Onde emergimos da noite e do silêncio’, nas palavras imortais de Sophia de Mello Breyner.
Uma citação certamente fácil, mas que – valha a verdade! – é sem dúvida a mais bela, concreta e certeira definição do desfecho que tiveram as ações dos Capitães de Abril nessa madrugada do dia 25 que hoje festejamos.
Que hoje festejamos celebrando a vida, os feitos, a generosidade e o empenho que esses homens – esses jovens militares! – tiveram para com todos os portugueses.
Quero aproveitar este momento para cumprimentar com um abraço solidário os familiares do Tenente-Coronel Arlindo Ferreira, ilustre Capitão de Abril, natural de Mesão Frio e precocemente falecido. Um homem bom de quem nos orgulhamos de ser seus conterrâneos!
Meus amigos, Mesão Frio costuma desafiar os seus potenciais visitantes mostrando imagens idílicas das nossas paisagens, das nossas gentes e dos nossos saberes sublinhadas com uma frase convidativa que diz "Imagine-se aqui!".
Pois queria propor-vos um desafio em que este mote se transforma num "Imaginem-se no Portugal pré-Revolução dos Cravos!".
Imaginem-se então num país que prendia, torturava e assassinava quem pensasse de forma diferente dos seus líderes!
Imaginem-se num país em guerra que enviava gerações de jovens portugueses para combater e morrer do outro lado do mundo.
Imaginem-se num país onde grande parte das populações morava em barracas e bairros de lata nas cidades, e em pobres casas sem luz eléctrica, água ou saneamento nas vilas e aldeias…
Um país sem eleições livres onde o poder autárquico era uma fantasia sem autonomia e sem meios, e uma miragem social sem intervenção económica de facto.
Um país pejado de analfabetos e onde só uma ínfima parte dos estudantes ia além da quarta classe.
Imaginem-se num país em que as mulheres eram persistentemente menosprezadas pelos vários poderes. Um país que criava barreiras ao casamento das enfermeiras e das professoras primárias; um país onde a mulher não podia ser juíza, diplomata, militar ou polícia. Um Portugal onde para trabalhar no comércio, sair do país, abrir conta bancária ou tomar contracetivos, a mulher era obrigada a pedir autorização ao marido. Um país onde uma mulher ganhava quase metade do salário pago aos homens.
Estas e outras leis foram rasgadas com o 25 de Abril, quando, finalmente, os direitos das mulheres ficaram consagrados na Constituição da República.
Mas meus amigos, não nos deixemos enganar! Mantenhamo-nos vigilantes e atuantes. Estejamos despertos e interventivos! Porque há quem nas sombras mais escuras; nos trilhos mais lodosos; e no visco pantanoso das caixas de comentários das redes sociais, se mova para promover o retrocesso e para fazer sair do trilho da liberdade o país democrático e plural que Abril inventou!
Aos mais jovens de hoje mostremos o exemplo dos jovens Capitães de Abril que ousaram insurgir-se e dizer não às arbitrariedades, às ilegalidades e aos crimes da ditadura fascista. Desafiemo-nos todos – todos, uns aos outros! – a ser mais interventivos nas instituições democráticas do poder central e local; a propôr e a concretizar ideias nas associações culturais, desportivas e recreativas da nossa Vila e das nossas Aldeias. Ousemos, como tantos antes de nós, a participar de facto, sem tabus nem medos, mas com responsabilidade, criatividade e forte sentido crítico.
Deixemos as redes sociais da má língua e da perfídia e regressemos às Assembleias participativas com ideias, sugestões, desafios, espírito construtivo e livre arbítrio para decidir o que queremos como sociedade e como queremos viver em comunidade.
Dê-mos uma machadada final no autoritarismo e sejamos capazes de edificar um lugar democrático onde se dá a voz a todos e onde todos têm a intenção de ouvir! Um lugar simbólico e material onde todos concorremos para uma Governação transparente e interventiva…
Caras e caros amigos, caras e caros democratas! O 25 de Abril de 1974 é para ser celebrado todos os dias! É esse poder que nos foi plantado nas mãos por homens como Arlindo Ferreira e os seus companheiros Capitães de Abril!
A Revolução dos Cravos forneceu-nos um guião humanista e solidário para que o possamos seguir com responsabilidade, intervenção e sentido pleno da palavra Liberdade!
O 25 de Abril foi um dia em 1974, mas pode e deve ser um modo de estar na vida de todos os nossos dias. É exatamente isso que procuro fazer no exercício diário desta tão nobre missão que é estar à frente da Autarquia de Mesão Frio que hoje aqui celebra os 50 anos do dia mais bonito da história das nossas vidas!
Viva o 25 de Abril!
Viva Mesão Frio!
Viva Portugal!"